Na varanda do seu apartamento, uma mulher branca de classe média lê uma matéria sobre uma outra mulher, preta e pobre, vítima de tráfico sexual. Sob o impacto dessa história, passa a imaginá-la, entrelaçando duas narrativas: as suas próprias experiências erótico-amorosas e as noites assustadoras de escravidão sexual dessa personagem que ela chama de Maria e que poderia ser qualquer mulher.
Nesse entrelaçamento em que os homens de uma transitam para a vida da outra, a dicotomia que existe entre as duas personagens ao mesmo tempo se acentua e se dissolve: porque se a sua relação com os homens, em esferas distintas da sociedade, as diferencia profundamente, também as aproxima como mulheres e, mais ainda, aproxima todos aqueles que, independente de classe ou cultura, ainda manifestam machismos muito parecidos, atitudes muito próximas, mudando apenas a maneira de agir e de usar as palavras, para violentar, subjugar ou calar. Entretanto, as Marias resistem, desejam, superam, e contam sua história com força e beleza. Um livro lindo e necessário.