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Novo livro da autora de República dos sonhos e Livro das horas.
Em Uma furtiva lágrima, Nélida Piñon vale-se mais uma vez de sua fina capacidade de costurar reminiscências. Sua família de imigrantes possibilitou a vivência simultânea do imaginário galego espanhol e do brasileiro, habilitando a autora a frequentar o cânone e as grandes civilizações de duas culturas muito ricas desde o começo da vida.
Desde sempre escrevendo sem pausa, Nélida nunca se habituou ao “terro baldio da literatura da vida”. Diante de um diagnóstico pessimista e acima de tudo cruel e ameaçador, conquanto equivocado, viu-se planejando os próximos passos como quem delineia o esqueleto de um livro. De início, os planos eram um diário para anotar essa nova fase, mas as lembranças a levaram a essas reflexões poéticas da realidade, entremeadas ao rico repertório de referências da autora e dotadas de domínio pleno da linguagem e uma costura de camadas de leituras possíveis, em uma aliança entre o texto e o leitor.
Se a certeza da morte iminente leva a uma grande metamorfose, talvez a maior pela qual uma pessoa pode passar, o veredicto levou Nélida Piñon a compreender sua própria trajetória, a condição de escritora, a relação com a finitude, a condição de um epílogo da vida.
Com extraordinário talento para narrar suas experiências e rara habilidade para sublinhar os sabores dos detalhes, Nélida Piñon é escritora para quem a morte, domada, é personagem; para quem o veredito da morte, projetado, é diagnóstico para resistir e superar. Uma obra de autoficção e memórias, Uma furtiva lágrima valoriza e redimensiona os limites formais da literatura.
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