Mafra Carbonieri, autor deste romance, disse certa vez que: “o homem institucionalizado, o homem formado pela sociedade, perde a criatividade, os objetivos e a individualidade. ” E é a um homem bem formado pela sociedade que o autor confia esta narrativa. Um advogado criminalista experiente e renomado que defende políticos corruptos, o que, na sociedade em que vivemos, nos tempos atuais, pode ser considerado um profissional de sucesso, alguém que alcançou alto patamar no campo do direito. Um indivíduo erudito, aparentemente cordato e educado com seus interlocutores, porém, em seu íntimo, se mostra um psicopata cheio de rancor, ódio e inveja. Alguém que acredita que “não deve se misturar à ralé dos que não exibem um diploma na parede ”, enquanto planeja assassinar a mulher, de quem depende até para tomar seus remédios.
Há ainda, em "Um estudo em branco e preto" espaço para a política moderna, tão mórbida quanto o narrador que, quando aponta o indicador, acusação em riste, é antes de mais nada a nós mesmos, como sociedade, que acusa. Onde há julgamento, todos são castigados, tal qual fez Shakespeare na frase final de Romeu e Julieta. Em cada olhar, uma sentença, mas o olhar também vem do espelho. E nesse espelho não há idade, nem prestígio, nem influência. E isso ainda não é tudo, porque, na obra de Mafra Carbonieri há também compaixão, revolta, surpresa, escárnio, ironia, tudo sempre em voz lírica.