Lançado originalmente em 1974, Tebas do meu coração ganha nova edição com capa e projeto gráfico novos.
Em Tebas do meu coração, Nélida Piñon entrecruza sonho e realidade para contar a história dos habitantes de Santíssimo, uma pequena e modesta cidade no interior do Brasil onde se concentra uma grande variedade de tipos humanos — personagens ricos e fantásticos, cujo comportamento acaba por romper com a realidade lógica.
No discurso proferido na entrega do Prêmio Juan Rulfo (México, 1995), o renomado escritor Carlos Fuentes disse: “Nélida Piñon tem sido uma figura política imprescindível em seu país, como vice-presidente da União Brasileira de escritores em momentos de repressão autoritária, nos quais escrever era uma tarefa perseguida. A voz de Nélida levantou-se firme contra a censura e, simultaneamente, sua imaginação ergueu-se com um voo ainda mais poderoso para escrever outro grande livro, Tebas do meu coração, no qual a escritora identifica a luta contra a ditadura, mais que contra a opressão, uma luta contra a fatalidade, a rotina, a falta de imaginação, a ignorância e o desígnio incontrolável das coisas.”
Resultado de uma intensa carpintaria literária — foram sete manuscritos até a versão definitiva —, Tebas do meu coração se serve, também, do fino humor de Nélida para fazer críticas à sociedade brasileira. Obra de maturidade e qualidades artísticas inquestionáveis, é uma leitura imperdível, graças à inteligência e ao talento de uma das mais brilhantes escritoras do Brasil.
“Naquele primeiro de julho, porém, Eucarístico começou a abater as árvores prometidas aos filhos como herança, logo que morresse. Avisada de que a família perdia as pompas mais nobres, e pelas mãos de Eucarístico, Magnólia foi ao seu encontro. Pediu que se desse ao menos três dias para pensar. Não se destruía o patrimônio de uma vida inteira em poucas horas de machado. Eucarístico não conseguia ouvir uma única palavra e Magnólia ajoelhou-se rezando pelas árvores enquanto ele as abatia.”