Quem se lembra de David Foenkinos? , uma espécie de livro de auto-ficção, conta a história de uma crise vivida (ou inventada) pelo autor-narrador-personagem. Longe de ser um livro melancólico, contudo, trata-se de uma narrativa repleta de humor e ironia, na qual as referências a figuras reais do disputado e mediatizado mercado editorial francês – Amélie Nothomb, Marc Lévy etc. – se alternam com reflexões nostálgicas sobre o desejo, o (des) encontro amoroso e a (in) fidelidade nossa de cada dia. A capacidade de rir de suas próprias desventuras e atribulações é o tempero com que Foenkinos atrai a simpatia dos leitores e os seduz, com seu anti-heroísmo e transparência – que lembram o Philip Roth dos primeiros livros, uma influência confessa do escritor. As passagens em que o narrador relata seu envolvimento com a jovem Caroline, além do mais, são repletas de poesia e delicadeza.
Por trás da leveza e aparente superficialidade da trama, Foenkinos trata de dois temas sérios, dois desafios que se entrelaçam: o ofício de escrever e a aventura de viver. Em sua auto-análise, a um tempo sombria e bem humorada, ele tenta resgatar as fundamentais capacidades de amar e de trabalhar – e assim aproxima a literatura das questões mais básicas da vida cotidiana, e a vida das questões mais básicas da ficção. Não faz muita diferença, portanto, saber até que ponto os detalhes do romance correspondem à realidade vivida. Exagerada ou não, a crise parece ter sido plenamente superada pelo autor: depois do lançamento de Quem se lembra de David Foenkinos? , ele já publicou Nos séparations (2008), elogiado pela crítica francesa, e lançará ainda este ano seu próximo romance, La delicatesse. Certamente ainda levará tempo para os leitores se esquecerem de David Foenkinos.