Uma inusitada narrativa protagonizada por um carismático papagaio é a vencedora do Prêmio Sesc de Literatura 2009, categoria romance. PROSA DE PAPAGAIO, estreia da diplomata mineira Gabriela Guimarães Gazzinelli no gênero, foi o escolhido pela comissão final, formada por Ana Miranda e Luiz Ruffato. “O romance mantém o fio narrativo, apresentando uma trama linear, porém com liberdade temática, que se passa no seio de uma família construída dentro de características contemporâneas”, analisam os escritores.Um dos 44 romances pré-selecionados pelas subcomissões julgadoras, PROSA DE PAPAGAIO venceu a edição mais concorrida do prêmio: em 2009, o Prêmio SESC teve 667 inscrições, maior número desde sua criação, em 2003. O concurso de 2008, por exemplo, contou com 457 inscrições. Para encantar jurados e vencer a acirrada — e cada vez mais repleta de qualidade — disputa, Gabriela constrói uma narrativa elegante, um espaço-tempo indefinido (mas reconhecível) e um personagem inusitado: um papagaio com ares de filósofo. PROSA DE PAPAGAIO é a história de uma família contada por seu papagaio, Louro. Compõe-se de pequenos episódios da vida comum que o papagaio gárrulo colore com suas idéias filosóficas, literárias e outras, idiossincráticas. A visão de pássaro, errática e ligeira, revela, aos poucos, fragilidades e anseios das diferentes personagens. O louro procura compreender os que o cercam, ditando suas observações com erudição, requinte e certa melancolia. A ave passa a vida observando com os seus atentos olhos de pássaro tudo o que acontece à sua volta e elabora um sarcástico e entusiástico retrato da frágil condição humana. “Por ser um papagaio, o Louro é um narrador deslocado: participa de um mundo ao qual não pertence, o dos seres humanos. É um ‘outro’. O seu olhar ornitológico favorece uma apreensão crítica e ‘desconstrutiva’ da natureza humana”, explica Gabriela.