Autor de Histórias de literatura e cegueira, finalista dos prêmios Jabuti e Portugal Telecom, o paulistano Julián Fuks volta a dissecar a literatura, enquanto explora sua própria experiência literária em seu novo livro, Procura do romance — projeto no qual esteve imerso por mais de quatro anos. A partir da história de um escritor em crise, o autor trata do penoso processo de elaboração de um livro, versando sobre a dúvida, a dor e a indecisão no ato de escrever, ao mesmo tempo em que revisa o próprio passado e suas origens. “Quis fazer com que a angústia da escrita se refletisse na matéria do texto, o atravessasse em cada frase construída a custo, penosamente, e se convertesse em um de seus temas”, comenta o autor. “Por isso fiz escritor meu protagonista, para poder imputar a ele minhas dúvidas, minhas inquietações, meus receios”. E assim é Sebastián, o protagonista: um sujeito obsessivo que se preocupa em rejeitar tudo o que já tenha sido escrito, buscando possibilidades narrativas e tentando escapar do impasse a que foi relegado por sua história pessoal. Enquanto escreve, Julián Fuks aplica-se no combate entre a consciência extrema da narração e a força de lembranças ancestrais, que Sebastián está convocando e revivendo, em sua viagem de volta à infância, a Buenos Aires. Não por acaso, a capital argentina é cenário das memórias também do próprio autor, filho de argentinos que deixaram o país durante a ditadura, e o apartamento em que passou a infância serve de cenário para as lembranças de Sebastián. “Em certa medida, escrevi esse romance para explorar alguma argentinidade que existia e existe em mim, para elaborar tantas idas e vindas, para entender como a minha história está marcada por um certo exílio que inevitavelmente herdei”, revela.Por meio de uma narrativa altamente sensorial, com uma grande gama de emoções e gestos muito bem traduzidos à linguagem literária, Julián Fuks funde memória e ficção para recompor a história pessoal de um andarilho que vasculha seus antigos lugares enquanto se descobre, se estranha e se recobre, para mais descobrir e recobrir. Como nota Alcides Villaça na orelha do livro, “em Procura do romance encontra-se, não há dúvida, um romance de busca da pessoa, numa voz do nosso tempo”.