O selo Escrituras, dentro da Coleção Ponte Velha, edição apoiada pelo Ministério da Cultura de Portugal e pela Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB), publica "Palavras noturnas e outros poemas", de Isabel Meyrelles, organizado e prefaciado por Floriano Martins.
Desde o princípio, a poesia de Isabel Meyrelles sugere – independentemente de seu vínculo direto ou indireto com o Surrealismo – dois caminhos: uma muito peculiar trilha elegíaca e um namoro discreto com ludismo e imaginário popular. As metáforas transfiguradas vão surgindo aos poucos em sua poesia, mas já as encontramos desde o primeiro livro, e a seu lado também se vão configurando e adensando outras características do surrealismo: o humor e a exaltação lírica. O mundo fabuloso de Isabel Meyrelles está mais afeito às adivinhações populares, cantigas provençais, contos de marinheiros, e a todo este universo recolhido. Não se trata apenas de mistério, mas antes de um jogo entre o misterioso e o ilusório, entre o vivido e o imaginado. Uma ligação que Isabel faz muito bem amparada pelo fulgor lírico, pela presença de um humor requintado.
O que há de mais autêntico nessa escultora-poeta, que não teme o confronto com as contradições que envolvem sua obra, é a maneira como recorta as diversas texturas do mundo à sua volta e lhes dá uma deslumbrante conotação fabular, mostrando que o fabuloso está presente em todos os momentos evocados por sua obra, poesia e escultura, lembrando a todo o momento que o imaginário é parte de nossa vida.