Da peça teatral O bem-amado ao vitorioso seriado de TV com o mesmo título, uma das melhores produções televisivas de todos os tempos, em qualquer país, e finalmente aos contos de Sucupira, ame-a ou deixe-a, e deste Odorico na cabeça, o que resultou não foram apenas variantes da irresistível crônica desse tão contraditório chefete político do interior, mas recriações completas, com linguagem e características adequadas a três veículos de comunicação com sintaxe própria. Dias Gomes foi de tal modo bem-sucedido em cada uma delas que, hoje, Sucupira é um município conhecido em todos os cantos do Brasil, e suas figuras mais evidentes – Odorico, Zeca Diabo, Dirceu Borboleta, Lulu Gouveia, as Cajazerias, Dona Chica Bandeira e Padre Honório – transformaram-se em personalidades nacionais. Talento e engenho são duas qualidades marcantes em toda a produção literária de Dias Gomes. Profundamente ligado às alegrias e tristezas de nosso povo, ele não apenas escolhe temas que estabelecem comunicação ampla com grandes massas humanas, mas que, como ocorre nas obras de Brecht, contribuem para edifica-las, ajudando-as a tomar consciência de si próprias e de seu legítimo direito (freqüentemente usurpado ou restringido) de ter voz e voto sobre assuntos de interesse nacional. Notável, também, é a versatilidade com que às vezes elabora um dado tema, apresentando-o sob várias formas, todas elas com estrutura e estilo bem definidos. Foi o que ocorreu, por exemplo, com os três aproveitamentos que teve a sempre divertida, mas ora doce-amarga, ora cortantemente crítica, narrativa das andanças de Odorico Paraguaçu, o Prefeito de Sucupira.