Esta coletânea reúne parte expressiva da produção ensaística de Lorenzo Mammì. Um dos nomes mais importantes da crítica cultural brasileira, Mammì traz pela primeira vez uma amostra representativa de sua produção, forjada ao longo dos últimos trinta anos.
Salvo duas exceções, um sobre Fred Astaire, outro sobre boxe, os ensaios centram foco nas artes visuais. Os seis primeiros, mais abrangentes, apresentam as linhas de força de seu pensamento, tais como a questão da autonomia da obra de arte. No restante do livro, os conceitos teóricos mais amplos são postos à prova em poéticas individuais - de Nuno Ramos, Paulo Pasta e José Resende até a obra do crítico italiano Giulio Carlo Argan, fonte central na formação de Mammì. “Isto, Aquilo e o Valor Disso”, um dos ensaios de abertura do livro, exemplifica o alcance da reflexão de Mammì. A comparação entre dois trabalhos, um de Jasper Johns, outro de Kenneth Noland, leva-o a discutir como obras tão semelhantes podem ser situadas em categorias opostas: a primeira, moderna; a segunda, contemporânea.
“As bordas”, ensaio mais longo do livro e, em parte, também inédito, é candidato à condição de clássico. O texto conduz à hipótese de que, a partir dos anos 1990, pode ter chegado ao fim o período conhecido como arte contemporânea, visto que “não há mais uma relação necessária, espontânea, entre práticas artísticas e formação de novos sujeitos sociais”.
Não é exagero dizer que o debate sobre artes no Brasil é alçado a um novo patamar com a publicação desse livro.