O Mestre das Polcas, personagem que dá nome à obra, encabeça uma
história que se passa na segunda metade do século 19, em Linz. Além de
sua predileção pelas artes, o que por si só pode denotar uma vontade
de potência mais acentuada que a do “cidadão comum”, o protagonista
ainda sonha em realizar uma obra-prima musical. A vítima dessa
pretensão, no entanto, não é inicialmente ele próprio.
Ao projetar esse desejo em seu filho, Ludwig, a relação de ambos
degringola. O menino, órfão de mãe, mostra-se um homem médio ao longo
da vida, não atende às expectativas altas do pai e parte do mundo de
uma maneira dramática, acentuando a decepção daquele que, talvez por
incompetência própria, o queria extraordinário.
É desse acúmulo de catástrofes — a morte da esposa e do filho, a
frustração como artista — que o mestre se lança em uma empreitada
ousada, ao lado do hábil artesão Jaquet-Droz, a fim de construir uma
orquestra de autômatos, isto é, bonecos pré-programados para a
execução de determinadas tarefas, e saciar seu desejo por glória.
Nesse grupo musical inumano, o papel que lhe caberia seria o de
maestro, naturalmente, um protótipo de deus regendo um bando
desalmado.
Como em boa parte da história das pretensões humanas, porém, o que
acontece está longe do esperado. No 16o romance de Guido Viaro,
destaca-se o processo de desumanização pelo qual o protagonista passa.
O que se prova é como a ganância narcísica pode ser catastrófica — e
bem patética, com cenas que não poupam esforços para evidenciar uma
derrocada.
Se o que o mestre mais desejava era a imortalidade artística,
enraizando-se na história ao lado de nomes como Beethoven, Mozart e
Bach, o que consegue, na verdade, é mostrar como esse caminho pode ser
perigoso. É preciso acompanhar a trajetória desse personagem para
descobrir os desdobramentos de sua cartada final como homem em busca
do poder, mas é possível adiantar que se trata de uma narrativa bem
humana. E, portanto, carrega muita dor e angústia.