Nas treze narrativas que integram O destino de um certo Frank Zappa e outros contos, Lourenço Dutra, tematiza a dura realidade contemporânea. São contos pungentes, de elevada carga dramática, que não nos deixam indiferentes nem imunes a todas as formas de violência, principalmente àquelas experimentadas pelo homem nos grandes centros do país, sejam elas frutos da insegurança urbana, ou decorrentes das condições materiais, das contradições econômicas ou dos pântanos psicológicos.Trata-se de um mergulho (in)tenso em um universo que a cada dia nos desafia. Mais do que protagonistas, somos as vítimas indefesas representadas pela voz desses personagens, constatação de que não apenas os crimes e delitos revelados nessas histórias estão na ordem do dia, mas a violência que deriva das próprias relações. É o retrato do ser desarticulado socialmente e que, por força da solidão e da incomunicabilidade da vida moderna – que tanto seduz pelos fetiches consumistas e seus ritos de competição – acaba por se relegar à insularidade e a uma existência em que o ter subestima o ser e cada qual revela a sua eloquência canina, sua parcela de desumanidade e desespero.Em O destino de um certo Frank Zappa e outros contos, quarto livro de Lourenço Dutra, estão presentes os referenciais estéticos de uma geração e os ícones de uma cidade tão nova e, ao mesmo tempo, tão multifacética como a capital da República. A música, o teatro, a televisão, o cinema, a cultura pop, as histórias em quadrinhos, as gírias, os produtos e os estereótipos que marcaram época em Brasília, no Brasil e no mundo, sem contar o inevitável ambiente político, encontram ressonância nessas histórias que mapeiam, como um mosaico, o inconsciente coletivo, resgatadas não com nostalgia, mas como denúncia e reflexão.“Sem dúvida, O destino de um certo Frank Zappa e outros contos metaforiza uma atmosfera de claustrofobia e desilusão, vísceras expostas de uma sociedade doente e sem saída. Com talento, Dutra soube tratar a miséria sem clichês ou obviedades, realizando uma catarse literária por meio de uma linguagem do mais alto nível.”
Ronaldo Cagiano