Uma reunião de histórias sobre encontros e desencontros, fins e recomeços de vida, escritas com a vivacidade, a agudez de observação e o humor que consagraram Lucia Berlin como voz fundamental do conto americano no século XX.
Uma rifa sendo vendida durante a Segunda Guerra. Um Natal em cima de um telhado. Um acidente de moto. Uma primeira experiência sexual desastrosa. Em tramas passadas no Texas, no Novo México, em Nova York ou no Chile — lugares onde Lucia Berlin morou — os contos de Noite no paraíso parecem contrariar o título sob o qual foram reunidos. Aqui tudo é solar nas descrições dos ambientes, nos desvios anedóticos que os textos fazem para marcar o próprio ritmo, e ao mesmo tempo há algo de inadequado, às vezes de trágico, na psicologia dos personagens. Trata-se da mistura que consagrou a autora, capaz de equilibrar leveza e densidade no modo como lida com temas recorrentes e também autobiográficos — alcoolismo, solidão, traumas familiares. Noite no paraíso traz essa sabedoria múltipla, fundada na mais fina técnica narrativa e numa experiência distante do mundo intelectual: conhecida por um pequeno público literário durante o tempo em que viveu, Berlin teve uma trajetória ricamente atribulada, trabalhando como enfermeira, telefonista e assistente num consultório médico enquanto criava quatro filhos de três casamentos.
Na esteira do sucesso de Manual da faxineira, coletânea póstuma que firmou o nome de Berlin na moderna tradição do conto americano, Noite no paraíso nos mostra como a familiaridade é sempre uma aparência. Basta olhar para tudo com atenção e um novo mundo se revela. Nele, a urgência da vida é uma “massa trêmula” cheia de “beleza e amor”, mas que cobra um preço quando se caminha no escuro produzindo “ecos altos, nostálgicos”, como “num velho ginásio vazio ou numa estação de trem tarde da noite”.
“Os contos de Lucia Berlin são elétricos, zumbem e estalam quando seus fios se tocam.” — Lydia Davis