Em 1970, o cerco aos guerrilheiros da VPR - Vanguarda Popular Revolucionária, organização de guerrilha comandada pelo ex-capitão Carlos Lamarca -, no Vale do Ribeira, levou os militares a repensarem a guerra contra-revolucionária. O episódio, conhecido como “A Guerrilha do Vale do Ribeira”, impôs uma surpreendente derrota aos mais de mil e quinhentos homens das Forças Armadas que perseguiam cinco guerrilheiros, entre eles Lamarca. Marcelo Rubens Paiva costumava passar as férias de sua infância em Eldorado Paulista, região montanhosa de São Paulo, palco dos acontecimentos históricos e deste romance. Sua família tinha uma fazenda por onde Lamarca chegou a passar. Logo depois, as terras foram cercadas pela Aeronáutica, que procurava ligações entre os Paiva e o guerrilheiro. A história verdadeira, como diz o próprio narrador, nunca será totalmente conhecida. Muitas das testemunhas estão mortas e algumas lacunas nunca foram preenchidas. Para construir sua narrativa, Marcelo contou com o depoimento da população local, de oficiais das Forças Armadas que se dispuseram a falar e de presos políticos e seus algozes. Além disso, vasculhou bibliotecas e percorreu arquivos, que o levaram a descobertas chocantes. Em Não és tu, Brasil, ele desafia tabus ideológicos para registrar um momento em que o combate à “subversão” estava entregue a agentes paramilitares, dando carta branca aos torturadores, que passaram a exercer uma espécie de poder paralelo no país e do qual seu pai, o deputado Rubens Paiva, foi notória vítima.