Eis-me novamente diante de um texto do autor Tito Mellão Laraya. Volto a me encontrar com seus sonhos, carências, dúvidas e opiniões. É sempre uma viagem sem volta pois, ao desvelar seus questionamentos, sou forçada a construir e reconstruir em continuação a imagem que tenho dele como escritor. Passeio por entre as suas palavras com em um jardim, sem um objetivo final a ser alcançado, nem proposta a ser descoberta. Colho uma impressão aqui, uma ideia original acolá, deixando-me flutuar por entre seus argumentos e me envolver pelo seu imaginário, levada pela brisa de suas palavras. Seus textos oscilam em um ir e vir, entre o existente no mais profundo de sua alma e o mais corriqueiro do cotidiano de seu mundo externo. Seus devaneios mostram desde as incertezas quanto à situação política nacional, como no texto O meu País, como o questionamento de si mesmo em Quem sou eu. Descreve, sem pudor, suas frustrações emocionais, falando de encontros e desencontros com parceiras temporárias e amigas pontuais, como nos textos A Realidade e o Sonho e A Amizade. Fala com igual sentimento também de luta, de dor, de morte e de realização, mas o leitmotiv desta obra é a dúvida em suas mais variadas facetas, donde origina a razão de uma parte do livro ser denominada “Também me Chamo Hamlet”. O autor, como o personagem shakespeariano, balouça entre as mais variadas interrogações para, no fundo, dissipar a bruma que o envolve e lograr questionar a si mesmo. A comprovação disso encontramos no texto A Razão do Fracasso, quando afirma: “O ato da Criação caminha lado a lado com o incômodo existencial, onde o ato de criar é o êxtase libertário da angústia existencial do ser humano”. Aqui, nosso Hamlet brasileiro deixa claro onde margeiam as suas dúvidas. Por toda a obra, a angústia do questionar-se é a propulsão instigadora motivacional da sua escrita. Dúvidas que envolvem a si mesmo, o outro e os fatos da vida, permeiam praticamente todas suas falas e expressões, ao logo do livro. A verdadeira razão de sua escrita é a dúvida angustiante do vivido, que o faz semelhante ao príncipe da Dinamarca. Na frase do texto A Dor, assegura-nos “Quando muito me dói a alma, me ponho a escrever” e, mais adiante, continua seu pensamento, “não só me alivia a existência, como permite uma compreensão maior do que comigo ocorre”. O nosso Hamlet Mellão Laraya percorre de angústia em angústia, de dúvida em dúvida, todas as temáticas: da perda de um ente querido em A Morte, ao cotidiano comezinho de Dia a Dia; da sedução da mulher sensual, em O Jantar, à tocante e sensível narrativa de Uma História de Natal; de A Estória de um Banqueiro a A Estória do Mendigo José. Borboleteia nesse jardim imaginário de sonho e palavras por entre as dúvidas de ser e ter, oscila entre o poder e a impotência, entre o saber e a dúvida hamletiana, mas termina sem nos deixar respostas conclusivas, só insights perturbadores e poéticos, nesta belíssima obra de sensibilidade única, a qual tive o privilégio de fazer esta apresentação. Elizabeth S. Marcovitch (06/06/2016)