“Um quarto, um espaço, paredes, chave, dinheiro: cem anos depois, é também do que minha mãe precisava; não para se tornar escritora, mas para se tornar uma mulher mais livre e mais feliz. Woolf já havia entendido, cem anos antes, que a liberdade não é, em princípio, uma questão estética e simbólica, mas uma questão material e prática”. Essa reflexão, que dá corpo à narrativa, parte de um telefonema de Monique, mãe do autor, que, depois de abandonar sua cidade operária do norte da França e seu casamento, vive em Paris com um novo companheiro.
Aos 55 anos e mãe de cinco filhos, sem diploma de nível superior ou carteira de motorista, sem saber usar sequer um computador, Monique se envolveu novamente com um homem que acabou por sustentá-la e, logo, foi submetida a todo tipo de degradação. Até que, uma noite, ela liga desesperada para o filho.
Escritor reconhecido àquela altura, e fora do país a trabalho, Louis traça à distância um plano de fuga para a mãe, que envolve, mais do que apoio emocional e acolhimento temporário, um aporte financeiro.
Mesclando literatura e manifesto político, este texto pode ser lido como uma continuação do aclamado Lutas e metamorfoses de uma mulher. A história de mais uma transformação de Monique é narrada por Édouard Louis, que, graças ao seu trabalho com a autoficção literária — o qual aborda justamente a origem humilde e operária da família e as humilhações decorrentes disso —, se vê capaz de ajudar financeiramente a mãe a conquistar uma nova vida: pela primeira vez vivendo sozinha, sem filhos ou marido para cuidar, Monique está livre, enfim.