Vencedora do Prêmio Pulitzer de melhor ficção, a coleção de contos de estreia de Jhumpa Lahiri marcou, em 2000, sua entrada no mundo da literatura. Além disso, Intérprete de males também faz parte de uma primeira leva de certo tipo de literatura que tem ganhado cada vez mais espaço nas livrarias de todo mundo e cujos olhos estão voltados para a vivência entre duas culturas distintas, e para as relações determinadas por este processo: o exílio, a saudade, o desarraigamento, a inadequação, a esperança, a adaptação. A autora, uma das vozes mais importantes da literatura em língua inglesa, é convidada da Flip em 2014.
Nos nove contos que compõem o livro, o leitor verá sempre certo incômodo, certa maneira de estar num lugar de um modo desconfortável, uma espera sem nome e sobressaltos do entendimento desse processo.
E é com esse olhar – que sempre vai e volta entre o espaço de estar e o espaço de querer estar – que Jhumpa trará histórias tocantes, nem sempre pelo enredo – que faz da simplicidade seu trunfo – mas certamente pela delicadeza de sua narrativa, e sobretudo pelo olhar arguto para tudo que revele um sentimento, uma tensão, uma espera.
É assim que surge um casal na iminência da separação, vivendo seus últimos momentos sob um apagão de energia em “Uma situação temporária”; ou o menino, filho de mãe solteira, ocidental, que conhece na convivência com a babá indiana o sofrimento da saudade e da distância que ele não imaginava que houvesse (“A casa da senhora Sem”); ou a família indiana que mora há anos nos EUA, e que lá cria os filhos segundo o “american way of life”, que encontra nas férias na Índia a ocasião para destilar sua insatisfação, sua dor, seu deslocamento, no conto que dá título ao livro. Cada conto, portanto, transita entre o ocidente e o oriente, e as personagens introjetam a tal ponto o ambiente em que vivem que são elas mesmos, mais que os representantes dos países de onde vêm, ou no qual estão, o próprio retrato dessa imensa viagem.