...por um fio, por dentro da linguagem noturna de Finnegans Wake, Dirce Waltrick do Amarante nos conduz até um fim. O resultado é a presente tradução autoral da última obra literária de James Joyce, publicada em 1939.
Já que a circularidade do Wake impede que exista começo, meio ou fim, a tradutora encontrou a ponta do fio narrativo onde bem quis e largou-a onde bem entendeu. Ou não foi bem assim?
Para esta tradução, entre as 628 páginas em que o livro de Joyce foi originalmente publicado em inglês (ou fineganês), DWA (Dirce Waltrick do Amarante) fixou-se em pontos de referência como ALP (Anna Livia Plurabelle) e HCE (Humphrey Chimpden Earwicker) – personagens que o leitor conhecerá assim que abandonar esta orelha e for direto ao ponto – além de menções a Giambasttista Vico e Lewis Carroll. Ela também selecionou alguns trechos do livro mais conhecidos dos leitores ou que primam pelo trabalho poético.
Um dos méritos dessa retradução condensada do Wake é não ter a pretensão de recomeçar do zero. A tradutora, também estudiosa da obra de Joyce, dialoga francamente com John Cage, Ana Hatherly e com os irmãos Campos. Ela nos conta, ainda, que durante seu andarilhar tradutório valeu-se de pistas de outros estudiosos e tradutores. Nada mais ético.
As obras de Joyce constantemente nos convidam a traduzir e pensar sobre tradução. Estudos sobre suas retraduções para as mais diversas línguas ajudaram não apenas a entender Joyce, mas também renderam importantes ideias sobre a própria tradução literária. Este Finnegans Wake (por um fio) é mais uma contribuição na mesma linha.
Quanto ao título, tal é a riqueza de possibilidades contida em “Finnegans Wake” (atenção: sem apóstrofo!) que, ao não ter optado por solução já conhecida em português, Dirce Waltrick do Amarante não despertou o gigante do livro em lugar dos leitores, mas atribuiu a nós a liberdade de fazê-lo.
Vamos então ler este pequeno Wake de fio a pavio, fiando-se no trabalho da tradutora-autora, que nos apresenta um fio narrativo, mas dando a entender, nos entrefios, que em Joyce nossa leitura está sempre...
Vitor Alevato do Amaral