Diante do espelho do banheiro, um violonista de renome internacional observa uma fotografia de si mesmo tirada trinta anos antes. Em um fluxo de consciência, narrado em um parágrafo único, ele recupera a juventude em uma cidade do interior de Minas Gerais até aquele momento retratado na foto: uma estadia em Londres, onde terminou sua formação musical. A memória acumulada em cinquenta e um anos de idade se desdobra, desordenada, e, enquanto a esposa e os filhos ainda dormem, ele se entrega a pequenas atividades domésticas: faz a barba, caminha com a cachorra medrosa, compra pão, cumprimenta os vizinhos, coloca roupa para lavar e faz café. No meio dos afazeres, as lembranças chegam — a música recebida pelos pais seresteiros, seu primeiro encontro com instrumentos e gravações, que o levou a uma profusão de professores de música. Nesse ínterim, há também outras questões: a sexualidade, o abuso de poder, a confusão com as injustiças do mundo. Na frustração com a falta de recursos para estudar piano, regência ou composição, ele se entrega finalmente ao violão, seu instrumento, que parece ser sua possibilidade única, um destino. Na Inglaterra e no Brasil, entre celebridades e anônimos, amizades e amores, sucessos e frustrações, esse homem, chamado apenas de B, tem no meio das memórias muitos buracos deixados pelo tempo, muitas perguntas que o próprio tempo ainda não conseguiu responder.