Caro leitor, A beleza de um livro não se apresenta do mesmo modo da que se revela em uma obra de escultura ou de pintura. Nestas, a beleza se entrega toda, imediatamente. Não faz jogo de sedução com o apreciador da arte para que este continue perto da obra para decifrar todos os seus mistérios. Já naquela − na beleza “literal”, aqui, com o significado de beleza das letras −, o belo, somente aos poucos, gradualmente, se entrega ao leitor. Assim, em doses homeopáticas, o leitor vai se deparando e desfrutando da beleza contida no livro, da beleza que o livro contém, mas que não se revela num piscar de olhos. A beleza do livro é paradoxal: em cada momento se apresenta intensa e absolutamente, mas, ainda assim, não se esgota naquele ponto em que se revelou para o leitor. A beleza da obra literária é um mistério “espacial” − como o espaço, cada ponto ínfimo é tão absolutamente espaço quanto o é a totalidade do espaço. A relação entre o livro e o leitor é ativa. Quanto à escultura, a relação do apreciador pode ser passiva e sem prévio conhecimento de arte. Mesmo assim, pode-se avaliar positivamente o objeto como obra de arte. A arte da escultura/pintura é como o amor − sem necessidade de explicação pelo contemplador. O livro, não. Com a obra literária, não há falar em apaixonar-se pelo livro sem lê-lo. É necessário esforço intelectual para compreendê-lo. A obra de arte escultura/pintura é encantadora magia da inspiração do momento. Enquanto para o leitor, o início do processo criativo do autor não é suficiente para definir um livro como obra de arte, na medida em o leitor precisa do arremate final, para o autor, sua obra já se torna arte desde o toque inicial da mão invisível nas primeiras ideias. Assim nasce um livro, com sabor do nascer de um filho, mas sem o compromisso de alimentá-lo e criá-lo para tornar-se ser ativo. Enfim, o livro nasce, abandona o autor, toma vida própria e pode fazer sucesso, ou não, e pode até morrer sem sequer comunicar o seu criador. Nesse caso, o autor precisa, mais uma vez, encontrar soluções na solidão do pensar para elaborar um novo livro. E, assim, a vida segue, leitor: seja feliz hoje e sempre!