Corações de papel é uma fascinante jornada nostálgica ao Rio de Janeiro dos anos 1960, revelada através das cartas de amor escritas por Nelson Motta – gênio polivalente da cultura brasileira das últimas décadas – a um amor de sua juventude.
No final de 2014, Nelson Motta recebeu de Ana Luisa, uma amiga dos tempos de faculdade, uma pasta azul repleta de cartas escritas por ele, manuscritas e datilografadas, todas meticulosamente organizadas em ordem cronológica. Ana Luisa havia recebido aquelas cartas entre os anos 1964 e 1965, quando ela e Nelson viveram um romance de juventude, e as guardara por cinquenta anos. Ao reler, tantos anos depois, a correspondência do antigo namorado, Ana disse ter ficado impressionada com a profundidade e a qualidade da escrita, especialmente considerando que ambos tinham então apenas 20 anos. São essas cartas que agora Nelson transformou no eixo deste seu novo livro, complementadas por deliciosas contextualizações das circunstâncias históricas, culturais e amorosas em que foram escritas.
Em Corações de papel, Nelson Motta faz um relato autobiográfico no formato epistolar, e um painel daqueles tempos de profunda ebulição na sociedade brasileira e no mundo. Com uma escrita que é, ao mesmo tempo, inteligente, bem-humorada e de uma sinceridade corajosa, a obra prende o leitor ao entrelaçar romance e dilemas de crescimento pessoal, além de proporcionar um saboroso retrato do Rio de Janeiro da década de 1960.
Entre discussões fervorosas e declarações de amor, o autor traz à tona a revolução estética inspirada pelo design moderno e pela Bauhaus, a fase áurea do cinema de arte, os escritores e jornalistas em ascensão e o apogeu da cena musical brasileira. Nomes conhecidos como João Gilberto, Nara Leão, Dori Caymmi, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Zuenir Ventura, Ruy Guerra, Glauber Rocha, Ingmar Bergman e Luchino Visconti gravitam no livro, como coadjuvantes de primeira grandeza. Em Corações de papel, Nelson transmite, de forma vibrante e envolvente, o sabor de uma época que continua a influenciar a todos nós.