Em 18 de maio de 1973, uma sexta-feira, Araceli Cabrera deixou o colégio São Pedro, em Vitória (ES), mais cedo a pedido de sua mãe por conta do horário do ônibus que a levaria de volta para casa. Nunca mais retornou. Seu corpo foi encontrado seis dias depois em um matagal, nas proximidades do Hospital Infantil, desfigurado e em adiantado estado de decomposição. Começava um dos casos policiais de maior repercussão na história judicial brasileira, deflagrado em plena ditadura militar e marcado por uma mistura de elementos: boatos, pressões, omissões e denúncias de destruição de provas. Após investigação conturbada, com os restos mortais de Araceli durante quase três anos no Serviço Médico Legal à espera de sepultamento, o Ministério Público denunciou três pessoas por envolvimento na morte da menina: Paulo Helal, Dante Brito Michelini, conhecido como Dantinho, e o seu pai, Dante de Barros Michelini, pertencentes a famílias influentes do Espírito Santo. Segundo a denúncia, Paulo e Dantinho “arquitetaram um plano diabólico para possuí-la sexualmente, usando de todos os recursos, mesmo se fosse necessário, sacrificá-la, como aconteceu”. Além da cobertura feita pelos veículos locais, as publicações nacionais e emissoras de rádio e televisão deram grande espaço ao crime. Chegou a ser tema de peça teatral, de romance reportagem e do programa Globo Repórter. Ao reconstituírem neste livro o crime que vitimou Araceli, em uma história de silêncios e reviravoltas, os jornalistas Felipe