Enquanto escrevia a sua obra da maturidade, considerada pela crítica como uma das mais inovadoras da literatura mundial, o escritor irlandês James Joyce (1882-1941) correspondeu-se assiduamente com a editora inglesa Harriet Shaw Weaver (1876-1961), responsável pela publicação de Um retrato do artista quando jovem na Inglaterra.
Nas cartas que enviou a ela o escritor descreve minuciosamente o seu trabalho criativo, destacando a estrutura narrativa e a linguagem de Ulisses e Finnegans Wake, ao mesmo tempo que faz confissões e revela as suas agruras econômicas e familiares, como o estado de saúde preocupante de seus filhos e, mais particularmente, de sua filha Lucia: “Alguma doença misteriosa foi aos poucos tomando conta dos meus dois filhos (os médicos estão inclinados a remontar a sua origem à nossa residência na Suíça durante a guerra) e se eles não conseguirem fazer nada por eles ela é a culpada, não eles”.
Weaver queria inicialmente ajudar na publicação e na divulgação dos livros desse escritor que tanto admirava, mas aos poucos foi também auxiliando-o a pôr a sua vida financeira e familiar em ordem ao oferecer-lhe anonimamente altas somas e ao dar-lhe apoio moral e psicológico. Weaver chegou a hospedar em casa Lucia Joyce, que sofria de esquizofrenia e cujo comportamento era imprevisível (Lucia a via ora como amiga, ora como um carcereiro), e, como aconteceu em outras ocasiões, fez esse favor ao grande romancista sem nenhuma exigência, pois não esperava dele recompensas: desejava apenas que ele finalizasse a sua obra.
Por tudo isso podemos considerar Weaver uma figura fundamental na vida do escritor: “a pessoa que fez a vida de Joyce como escritor ser possível — a amiga desconhecida e generosa [...]”, como opinou o crítico inglês Peircy Muir.
Richard Ellmann se referia a Harriet Wever como uma “mulher extraordinária”, cuja generosidade continuou pelo resto da vida de Joyce, e mesmo depois, pois Weaver pagou não somente o seu funeral, como também o de Nora Joyce, mulher do escritor.