Na jornada de Carlinhos no Ciclo da Cana-de-Açúcar, o leitor acompanha o protagonista crescer e passar de uma criança ingênua e solitária, para um adulto ambíguo. Seu desenvolvimento pessoal acrescenta profundidade na narrativa de José Lins do Rego, que mostra o fim dos engenhos tradicionais e a chegada das máquinas sempre costurando isso com o arco narrativo do protagonista.
No Ciclo do Cangaço, que começa com Pedra Bonita e termina com Cangaceiros, lançado pela Global Editora, acontece a mesma coisa. Em declaração sobre o livro, Zé Lins diz: “É o sertão dos santos e dos cangaceiros, dos que matam e rezam com a mesma crueza e a mesma humanidade.” O início do ciclo tem seu pontapé ao mostrar a infância e os dilemas de Bentinho.
Em Pedra Bonita, ele precisa decidir entre seguir o irmão, membro ativo do movimento do cangaço, ou adotar o estilo de vida do seu tio e entrar para a igreja. Cangaceiros, que é a continuação direta da história, tem algumas características parecidas. Além da trama ter a mesma qualidade imersiva tão presente nas obras do autor, a história é dividida em 2 partes. Uma abordando o movimento do cangaço em si, pela visão de personagens icônicos como Aparício (o líder), Germano, Bem-te-vi e Beiço Lascado. E a outra mostrando como Bentinho é obrigado a cuidar da mãe mentalmente instável, acompanhar a jornada intensa dos seus irmãos (ambos envolvidos no cangaço) e como ele se apaixonada sutilmente por Alice, um ponto fora da curva na sua vida caótica. Sempre olhando as mudanças da margem, o protagonista precisa, de uma vez por todas, entender seu papel no mundo em que vive.
Assim, Cangaceiros é um livro interessante em mais de uma frente: tanto na construção de personagem, quanto na visão ambígua de um movimento que já foi muito retratado pela cultura no geral – por meio de cinema, TV e até mesmo na música. Assim como o Ciclo da Cana-de-Açúcar, José Lins do Rego mostra um conhecimento profundo não apenas pelas suas raízes nordestinas, como também por figuras complexas.