Ivan Turguêniev (1818-1883) é considerado, ao lado de Dostoiévski e Tolstói, um dos três grandes romancistas russos do século XIX. Diferentemente do mergulho na psicologia humana empreendido pelo primeiro e dos grandes painéis históricos retratados pelo segundo, Turguêniev se notabilizou pela delicadeza de sua escrita e uma incrível capacidade de revelar, sem panfletarismo, as estruturas mais profundas da sociedade de seu país.
Publicada em 1857, a novela Ássia é um dos exemplos mais acabados de seu talento. O enredo aparentemente singelo — em que um nobre russo viajando pela Alemanha faz amizade com um casal de irmãos, também russos, e se apaixona pela irmã mais nova, Ássia — traz, em uma camada mais profunda, uma discussão sobre as relações entre as elites do país e os servos emancipados. Ao mesmo tempo, o livro aborda o tema do “homem supérfluo”, já presente em outras obras deste autor que analisou, com agudeza ímpar, aquela geração de jovens da nobreza russa que tinha grandes ideais, mas era incapaz de colocá-los em prática.
No posfácio ao volume, a tradutora Fátima Bianchi, professora da Universidade de São Paulo, aponta os fortes elementos autobiográficos inscritos na narrativa, e demonstra que esta novela concisa ocupa um lugar central na vida e nos processos de criação literária de Turguêniev.