Conforme o autor, As Imposturas da língua é um livro escrito à beira do abismo. "Nasceu à noite, já tarde, em Maquiné, aos pés da Cascata do Garapiá, no leito do rio que carrega o nome do local. Acampávamos na mata. Há dois meses tinha experienciado ayahuasca e me caía às mãos Um beijo dado mais tarde, livro de Maria Gabriela Llansol. Minha mãe havia sido hospitalizada para uma cirurgia de emergência e eu estava prestes a experimentar a maior tragédia da minha vida. Mas este não é um livro triste. Pelo contrário, é um livro delicado, mas que traz um urro, um grito. Um jeito de empurrar para longe as aflições que se grudam na pele e corroem feito veneno. É uma literatura de intensidades, prosa-poesia-prosa, em que a linguagem se torna arma de guerra. Uma maneira de extravasar a ruptura. O ano é dois mil e vinte um."
"A língua pode tudo. Dobrar. Voltar. Cobrir. Subir. Voar. Sonhar. Matar. Ressuscitar. A língua impõe. Em As imposturas da língua tudo é possível. Inclusive ser dois em apenas um. Roger Ceccon nos impõe uma língua para o deslocamento.
Desloucar a língua, sem negar a realidade. Cara e caro leitor: cuidado! Descobrir essa língua é analisar o tempo. Como ignorar o tempo? O mundo enfrenta a fome, a morte, uma peste invisível. Quem são as pessoas afetadas por esse tempo? Roger, como um timoneiro, nos leva para águas profundas desta língua e deste tempo. Esmiúça a vida dos vivos, dos quase-vivos, dos vivos-mortos. Mergulhamos, a cada texto, a cada frase, em um abismo. Voltamos intoxicados de sinceridade, de veracidade, de tudo o que existe num mundo que não é plano. Nem pleno. Esse autor não é ingênuo, nos lança com crueza às intimidades do humano. É preciso ter fôlego. Ler As imposturas da língua requer calma em tanto caos. Trata-se de um repúdio às infelicidades do viver. Zil vezes nos impõem matar e morrer. É a tradução de uma língua estrangeira, portuguesa, mas que hoje é brasileira. Obrigado, Roger, por nos presentear com essa obra. Mesmo que doa pensar e sentir o que você nos convoca, tua língua é a nossa língua." (texto de orelha de Severo Garcia)