Impossível não se apaixonar, à primeira leitura, por este novo volume de contos de Menalton Braff. O autor se vale da maturação de sua escrita à semelhança dos vinhos armazenados em tonéis de carvalho, já que o tempo confere às narrativas (tanto as mais breves, como as mais longas) sabores e aromas refinados. Trata-se de boa literatura. E a obra de arte desse porte endereça-se ao leitor sensível, aquele que busca na prosa ficcional um caminho para a humanização. A ficção que humaniza suscita no leitor o apreço pela dor do outro, seu semelhante. Nesse sentido, os temas valorizados por Braff contemplam, sobretudo, as perdas irreparáveis, as conturbadas relações familiares, os infortúnios do cotidiano, os desencontros, a solidão, “o insuportável mau cheiro da memória”, nas palavras de Carlos Drummond de Andrade. Assim, com delicadeza e raros momentos de humor, o autor cria verdadeiras peças poéticas, repletas de cromatismo e figuras sensoriais, numa linguagem que se reinventa a cada parágrafo, no qual o leitor mergulha e do qual sai prenhe de poesia e espanto. Claro, literatura é a arte da construção do discurso: plano da expressão e plano do conteúdo harmonicamente interligados. Tchecov, mestre do conto universal, afirmava que, se no início de uma narrativa, houvesse uma espingarda pendurada na parede, no final deveria haver um disparo. Imagem cara a Braff, que trança os fios de suas histórias de modo que nada sobre e nada falte. Desse modo, a unidade dramática preserva-se, já que o conto, modernamente, constitui o gênero da concisão, da cena, do flagrante cotidiano, da fatia de vida que merece ser revelada. Apaixone-se o leitor por esse Amor passageiro e terá a sensação, ao encerrar o livro, de que as narrativas de Menalton Braff não vão abandoná-lo tão cedo.