O livro impresso, A Vida Descalço, escrito por Alan Pauls e publicado pela editora Companhia das Letras, traz uma mescla magnética de ensaio e memória, onde o autor argentino faz da praia o lugar da disponibilidade, dos encontros, do ócio, espaço-chave na vida moderna; experiência íntima e estereótipo, utopia selvagem e palco daquilo que chamamos de civilização. “Nós, os que vamos à praia, vamos sempre mais ou menos atrás da mesma coisa: das marcas do que o mundo era antes que a mão do homem decidisse reescrevê-lo.” É dessa maneira que o narrador de A Vida Descalço avança, em uma deriva que o levará da memória à história social, do ensaio cultural a tudo aquilo que jaz sob a areia da praia, esse lugar “franco, transparente, aberto ao céu ‘como uma boca ou uma ferida’”. Desafiando os lugares-comuns tanto do pensamento como do prazer, Alan Pauls nos apresenta a praia como ambiente da imaginação. Entre hordas turísticas e a areia deserta, os enigmas da praia se veem auscultados ao contrário: a beira-mar como lente de aumento para investigar a vida civil, a superprodução de sonhos (“sonha-se muito na praia”), a utopia política, os corpos bronzeados, e o verão como invenção midiática. Fenomenologia íntima e paródia do intelectual em férias, este livro nos conduz à praia da infância do narrador — o litoral de Villa Gesell, ao sul de Buenos Aires, onde por mais de quinze anos o autor passou suas férias de verão —, às ficções estivais de François Ozon e Eric Rohmer, às areias do Rio de Janeiro dos anos 70, às fantasias ascéticas da antipraia invernal.