Obra experimental que trata da dificuldade de narrar, este romance pouco conhecido de Elvira Vigna ganha uma nova edição, catorze anos depois, com posfácio de José Luiz Passos.
Considerada uma das maiores escritoras brasileiras contemporâneas, Elvira Vigna costumava declarar que A um passo era seu romance preferido. O livro fragmentado e bastante experimental foi publicado originalmente em 1990, com o título A um passo de Eldorado, e depois teve uma nova edição, com uma série de mudanças — inclusive o título —, em 2004. A obra é pouco conhecida e passou despercebida pela imprensa à época, razão pela qual Vigna dizia tê-la como favorita.
Nos capítulos curtos, cada personagem conta a história do outro, tornando explícita as dificuldades do próprio narrar. Há um suposto crime de assassinato, em que dois amantes estariam envolvidos, e a vingança por um abuso sofrido na infância, mas são o banal e o cotidiano que irão fornecer a matéria para construir uma recusa da lógica previsível das coisas. Com sua típica ironia mordaz, a autora de Nada a dizer e Como se estivéssemos em palimpsesto de putas constrói a trama como um jogo de xadrez inusitado e fascinante.
“Tendo já publicado vários outros romances, todos marcados por um estilo peculiar (a autora é uma dentre os poucos que conseguem criar uma linguagem própria, inconfundível, dentro da literatura contemporânea), Elvira Vigna radicaliza, em A um passo, a sua leitura corrosiva da vida urbana brasileira dos dias de hoje, vida tempestuosa onde quase todos são exilados, estrangeiros dentro de seu próprio território.” — Maria Esther Maciel