De modo similar ao livro de filosofia do pré-Socrático Parmênides, intitulado Da Natureza, composto inteiramente em versos, A sinfonia do tempo: primeiro livro de Filosofia (selo Escrituras), do poeta Daniel Mazza, representa um único e longo texto de matriz filosófica, subdividido em duas seções: (1) “Diálogo” (“O Morto”, “O Coveiro”, “A Morte”) e (2) “Monólogo” (“Silêncio”).Na primeira seção, os discursos das três personagens (o morto, o coveiro e a morte) são, de fato, um prelúdio para a segunda (“Silêncio”), que não pode ser plenamente compreendida sem a exposição das inquietações existenciais apresentadas por cada uma das personagens.O subtítulo desta obra marca, de forma explícita, a ligação do autor Daniel Mazza a uma longa genealogia da poesia de pensamento em nossa língua, que vem de Sá de Miranda e Camões, passando por Antero de Quental, Augusto dos Anjos e Fernando Pessoa, entre muitos outros nomes, chegar até nossos dias.A expressão poesia de pensamento trata daquela que se debruça de maneira mais ostensiva sobre o mistério insolúvel do Ser, o que a irmana, apesar dos processos radicalmente diversos, com a Filosofia. De qualquer maneira, é sempre bom lembrar a simbiose que existia entre Poesia e Filosofia no momento inigualável do nascimento do pensamento ocidental na Grécia, quando todos os filósofos ampliavam seu pensamento por meio de versos.
“Falando com o silêncioCortante, voz de navalha,Falando com o silêncioPesado de uma muralha,Falando com o silêncioPesado, voz de muralha,A voz afiada de um mortoDiz: ‘O silêncio é muralha...... Ninguém pode ver além,
Ninguém vê além da muralha.Pois o silêncio da morteÉ inconsútil, sem falhas.Pois o silêncio da morteÉ intransponível muralha,É um silêncio puríssimoQue a tudo e a todos’”