Elisa é uma diarista que cruza a ponte para trabalhar em Porto Alegre. Sua vida foi e é árdua, submetida ao drama das enchentes, das dificuldades financeiras, que de algum modo ela dribla, com humor e perseverança, na sua relação de trabalho e de vida com as patroas da cidade. Ora jocosas, ora dramáticas, essas relações compõem o núcleo presencial do livro, que também se ocupa, nos outros dois núcleos, de uma recuperação do passado da protagonista e das condições dos moradores (como ela) das ilhas do Guaíba, promovendo um importante painel demográfico da região, sem incorrer em reduções ou generalizações.
E todas essas frentes se desdobram para os leitores por meio da voz da própria Elisa, uma voz construída por Ana Cardoso a partir dos depoimentos da Elisa real, convertida aqui em personagem e narradora, recurso que nos permite conhecer mais intimamente sua trajetória, entrelaçando assim experiência real e análise social, como se fossem duas vozes soando conjuntamente, a da autora e a de sua biografada, em um trabalho amoroso, ditado pelo respeito e pelo comprometimento em fazer um retrato complexo de uma criatura humana – tanto de sua figura individual, como de sua interação com aqueles, com aquelas, que a cercam.
Por tudo isso, A mulher que atravessa a ponte é um livro de difícil categorização. E isso é um alento, um convite, entre tantos livros que podemos definir já na primeira página. Parte ficção, parte reportagem, parte investigação, parte estudo das árduas condições das vidas ribeirinhas do Guaíba, esta nova obra de Ana Cardoso é, ao mesmo tempo — e principalmente —, a recuperação e recriação de uma vida extraordinária, cuja visibilidade se mostrava comprometida por estar mergulhada no bruto cotidiano de tantas trabalhadoras domésticas, uma vida que aqui aparece redimida em suas dificuldades e alegrias, agruras e vitórias, vistas através das lentes do afeto e da admiração. - Pedro Gonzaga
"Com um prosa direta e bem-humorada, Ana Cardoso dá voz a mulheres pouco ouvidas no Brasil."
Giovana Madalosso
"Um conselho pra você que vai começar a ler A mulher que atravessa a ponte agora: escolha um lugar bem confortável e cancele seus próximos compromissos. Afinal, você só vai largar o livro na última página. Que golaço, Ana!"
Clara Corleone