Jerry Delfont é um autor de artigos de viagem. Está passando uma temporada na conturbada Calcutá e sofre de bloqueio de escritor. Quando recebe uma carta da filantropa norte-americana Merrill Unger com notícias de um escândalo envolvendo Rajat - um amigo indiano do filho dessa misteriosa mulher -, ele se sente impelido a investigar a história. De quem é o corpo encontrado no quarto de um hotel barato, e em que circunstâncias ele foi parar ali? Jerry terá condições de desvendar o quebra-cabeça e inocentar o jovem Rajat? A cada nova pista o crime parece mais intrincado. E Jerry aos poucos se deixa seduzir pela bela senhora Unger, uma mulher que esconde suas verdadeiras intenções. Autor consagrado de clássicos relatos de viagem, como O Grande Bazar Ferroviário e o recém-lançado no Brasil Trem Fantasma para a Estrela do Oriente, Paul Theroux sempre lançou mão de seu profundo conhecimento dos cenários escolhidos para criar sua ficção. Em A mão morta, um mergulho na Índia contemporânea, ele vai além e cria um alter ego na figura do escritor Jerry Delfont. Protagonista de uma trama policial, Delfont chega a encontrar-se com Paul Theroux, já acostumado a constantes indagações sobre o quanto de suas histórias é inventado e o quanto é inspirado em acontecimentos reais vividos em suas viagens: "Quando eu escrevi o romance Minha história secreta (1989), os críticos disseram que eu estava apenas escrevendo sobre minha vida de forma velada. Sim, em parte eles estavam certos. Mas quem lê o livro pode ver que cada parte tem um começo, um meio e um fim. Cada parte é cuidadosamente construída. A vida nunca é assim. Uma vida é muito mais complexa e é preciso chegar até o final dela para compreendê-la bem. Naquela época eu pensei: bem, vou escrever um monte de mentiras e chamar de autobiografia. Então escrevi Minha outra vida (1996), um pacote de mentiras que equivale a uma espécie de verdade. Mentir é um ato muito individual, mas, se um escritor consegue contar o suficiente aos interessados, então faz um grande negócio", reflete ele sobre o assunto em entrevista para a revista virtual Salon. "Theroux não queria que eu o conhecesse, não queria que ninguém o conhecesse, sendo esse o motivo por que não fazia outra coisa além de fingir escrever sobre si mesmo, sem nunca mostrar franqueza total, oferecendo todas aquelas versões de si mesmo até desaparecer num matagal de meias verdades que ele esperava que fosse arte", se autodescreve o autor na voz de seu protagonista, durante o primeiro encontro de ambos no decadente hotel Fairlawn, em Calcutá. É no desenrolar desse encontro que Theroux vai descortinando para o leitor de A mão morta uma curiosa visão de sua figura pública.