O leitor vai matar saudade. Philip Marlowe, um dos maiores detetives da história da literatura policial criado pelo norte-americano Raymond Chandler, está de volta. Ressuscitado em A loura de olhos negros, ele continua um sentimental e um solitário, espécie de “cavaleiro andante” moderno, a bordo de um velho Chrysler que cruza as ruas de Los Angeles, cidade infestada de chantagistas, mexicanos brutais, policiais corruptos, políticos escroques, magnatas da imprensa, traficantes, toxicômanos, ninfomaníacas, gigolôs, aspirantes a estrelas e astros de Hollywood.
O irlandês John Banville, sempre presente nas listas dos candidatos ao Prêmio Nobel, foi o escolhido pelos herdeiros de Raymond Chandler para escrever a nova aventura do detetive particular que sempre cobra 25 dólares por dia, mais despesas. Quem assina o livro é Benjamin Black, pseudônimo do qual Banville se utiliza nos romances policiais protagonizados pelo patologista Garret Quirke – dois deles, O pecado de Christine e O Cisne de Prata, já lançados no Brasil pela Rocco.
Quando tem início a ação de A loura de olhos negros (título que o próprio Chandler mantinha em seus arquivos para futuras obras), encontramos Philip Marlowe vivendo uma situação velha conhecida, entediado, à espera de um cliente. Eis que o detetive avista uma mulher, de longas pernas, usando um pequeno chapéu e um casaco elegante, que olha à esquerda e à direita antes de atravessar a rua, muito compenetrada. Marlowe imagina que ela deve ter sido “uma menina muito boazinha quando era pequena” e, neste momento, sabemos que a mulher irá bater na porta do escritório e as engrenagens do mistério vão começar a rodar. Clare Cavendish, rica herdeira de uma fábrica de perfumes, contrata o detetive para encontrar o antigo amante, um boa-vida chamado Nico Peterson, que sumiu de circulação aparentemente sem deixar rastro.