A reinvenção da literatura em A invenção do crime Na Líbia, um traficante de armas não entende por que está sendo excluído do esquema. Na Romênia, um promotor não pode mais investigar o tráfico de ópio e a morte de um poeta. No Rio de Janeiro, um matador sequer consegue entrar em casa, ainda que o chaveiro venha trocar a fechadura algumas vezes. Outras estranhas histórias se sucedem e, por enquanto, o personagem principal de A INVENÇÃO DO CRIME, primeiro romance da jornalista Leida Reis, ainda nem apareceu.Aos poucos, as peças começam a se encaixar. Este homem, denominado o Herói, é exímio especialista em apagar os rastros deixados por uma pessoa desde o nascimento, até chegar na própria pessoa e tirá-la de algum modo de circulação. Não matava, destruía identidades. Foi assim até que, em decorrência de um acontecimento que se esclarecerá depois, o Herói irá matar pela primeira vez. No último fragmento, o maior do livro, um escritor, em narração na primeira pessoa, fornece informações que completam as peças do quebra-cabeça.Mais do que um romance policial, A INVENÇÃO DO CRIME é uma homenagem à literatura. No livro de Leida Reis estão referências aos russos, aosbrasileiros, e, sobretudo, ao próprio ofício da escrita, à busca do escritor pelo personagem. E ele tudo pode para exercer seu papel. Um romance composto de vários fragmentos que se encaixam no final como um quebra-cabeça. Cada fragmento enfoca um personagem em determinado lugar do mundo, envolvido em uma situação no mínimo inusitada: de alguma forma, a identidade do personagem é “apagada” do próprio universo em que vive.Ali estão os famosos fuzis AK-47, os mísseis Bulava; o Complexo do Alemão, a Avenida Paulista, o crack. Mas a este conhecimento, digamos, factual, a autora associa uma vasta cultura e, sobretudo, uma reflexão que não se restringe aos acontecimentos do cotidiano, mas que vai mais fundo, mergulhando na própria condição humana, como se constata no derradeiro capítulo, que começa com uma reflexão psicanalítica sobre Dostoievski. É uma meditação sobre a própria narrativa, sobre o ato de criar: “Escrevo porque tenho por hábito investigar a vida das pessoas e não havia o que fazer com as descobertas.”