O texto que está em suas mãos merece ser lido com atenção. A construção da pesquisa e das análises nele presentes certamente o constituem como uma obrigatória referência para todos os interessados nos estudos acerca das “Festividades Populares”, em especial dos “Brasis” mais profundos e interioranos (com suas particulares formas de vida, relações sociais e redes de solidariedade). Fernando Rocha constrói uma narrativa que consegue algo difícil em textos acadêmicos: a presença da Festa e de suas personagens, com toda a humanidade que encerram, e uma acurada análise histórico-sociológica. Transitando sincrônica e diacronicamente pelos significados atribuídos à Festa, o autor nos possibilita um mergulho nas memórias erigidas sobre ela, ao mesmo tempo que permanece atento para as inovações e transformações que ali tiveram lugar. Em seu texto, também saltam aos olhos os aspectos políticos, as relações de poder, intrincadas formas de construção de status e aquisição de reconhecimento social; ao mesmo tempo manifestadas como respeitosa devoção e religiosa experiência de vida. Entendendo a especificidade do “Tempo da Festa”, Fernando permite-nos compreender o que é a “comunidade de Aurilândia quando ela não é a Festa”. Refazendo-se continuamente a Cidade e a Festa, as pessoas e os contextos, passado e presente, Sagrado e Profano, Santa Luzia e as mulheres e homens do lugar, fartura e escassez, memória e invenção, estabelecem-se sempre em relação. Ritualiza-se, assim, também a vida, quando ela não é Festa. O trabalho de Fernando Rocha permite-nos ver e enxergar melhor os sentidos da Festa. Se certamente tais qualidades emergem do humano esforço do autor, parecem de alguma forma também confirmar os poderes da Santa. Imprescindível.