O selo Escrituras apresenta aos leitores brasileiros A definição da noite, uma antologia de Ana Marques Gastão, “uma voz original e vigorosa na atual poesia portuguesa contemporânea”, segundo Carlos Nejar, em seu prefácio.Uma seleção dos quatro livros publicados da autora: Tempo de morrer, Tempo para viver (1998), Terra sem mãe (2000), Três vezes Deus, em co-autoria com António Rego Chaves e Armando Silva Carvalho (2001), e Nocturnos (2002) está presente em A definição da noite junto com outros poemas inéditos resultando num importante trabalho antológico. Em cada parte do livro a escuridão está presente, funcionando como uma conexão de forma a construir um único sentido para a noite: a obscuridade, o desconhecido, uma vaga névoa na escuridão. Sua poesia é intensa, dramática e dolorida, trata os temas com ferocidade, esclarece o sofrimento da condição humana.A definição da noite tem início com Tempo de morrer, Tempo para viver, em que Ana Gastão aborda os assuntos nascimento e morte. Em Terra sem mãe, marca presença constante a dor intensa de não se ter um referencial. Fala de uma terra desolada, um deserto cheio de solidão que se reflete em sua alma: Sombra sou / num jardim perdido. A morte é uma constante nessa parte da antologia, seguida da escuridão. Vemos em seus versos um choro que transborda incansavelmente com muito pesar, capaz de atingir nosso próprio choro.Em O silêncio de deus, esse deus não é aquele que muda a nossa sorte, o Deus vivo, mas um deus mudo e sem paz. O silêncio presente em seus versos nos leva à completa escuridão, ao desconhecido.A escuridão se intensifica em Nocturnos e com ela a solidão absoluta. O elemento noturno é impiedoso, tanto com a autora como com os outros, guarda com ele o peso do “estar só”, o silêncio em que se fecha o ser que sofre – Triste, a noite, no silêncio / de um rosto / - aquele que está só / em breve desaparecerá.Ana Marques Gastão encerra sua obra com poemas inéditos. Em um deles, Sit, ela busca a verdadeira definição da noite. ..Fosse esse o regresso / a um pensamento nítido, de que reconheço o traço / no papel, caligrafia de um tudo anterior, e eu seria / a definição da noite... Mas, ao mesmo tempo que tenta definir a noite, mostra a dificuldade de sua clareza pois a autora não reconhece esse traço nítido, prefere não ter as coisas totalmente esclarecidas, tem sua memória rugosa e mínima que se desmembra como um breve sinal de vida extinta na passagem do dia.