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Veredas Nordestinas

A participação de Luiz Gonzaga em o 'Juazeiro e a sombra' (Dominguinhos/Fausto Nilo), seria a última num disco de Dominguinhos. Gonzagão faleceria no ano do lançamento do disco, em agosto de 1989, no Recife. Considerado o 'herdeiro' do Rei do Baião (embora ele tenha sempre recusado a honraria), Dominguinhos aplica neste álbum lições do seu amigo e padrinho artístico. Veredas Nordestinas passeia pelos mais variados ritmos e assuntos e vai atrás de cabras que entendem do riscado. Cecéu, a parceira de Antônio Barros, em 'Por essa paixão', João Silva (com Zé Mocó) em 'Forró amadurou'. Com o pernambucano (de Ipojuca), Dominguinhos engatou uma das parcerias mais acertadas de sua carreira. Aqui os dois chegam com 'De volta pro aconchego', um clássico instantâneo da música brasileira e um dos grandes sucessos de Elba Ramalho.

Zezum, Fubá (de Taperoá), Lereu do Pandeiro, são alguns dos muitos autores e artistas nordestinos, só conhecidos dos especialistas, num disco que termina com o último dos cantores de forró na linha de Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda. Ele canta, com Dominguinhos, 'Puxe encolhe', o título uma expressão bem nordestina, significando a grosso modo, indecisão, uma homenagem ao sanfoneiro Manoel Maurício.

Biografia:

Dominguinhos chegou a Nilópolis, na baixada fluminense, em 1954. Veio na carroceria de um caminhão com o pai Seu Chicão e o irmão Valdomiro. Lá já vivia Moraes, outro irmão (ao todos eram dez). Foram morar num quarto alugado e logo procuraram uma viração. Dominguinhos, o José Domingo de Moraes, virou entregador de tinturaria. Dominguinhos, ou Neném, como era então chamado, poderia ter sido mais um pau-de-arara, como tantos outros emigrantes nordestinos. Duas coisas no entanto, levariam Neném a ter uma biografia diferente. O talento precoce para tocar sanfona e um encontro com Luiz Gonzaga, quando estava com nove anos, em Garanhuns sua terra natal no agreste pernambucano.

Neném, formava com Valdomiro e Moraes o trio Três Pinguins, que contribuía para o orçamento de casa com o que ganhava tocando nas feiras da região e nas ruas de Garanhuns. Luiz Gonzaga estava na cidade para fazer um show, e os Três Pingüins foram levados para conhecê-lo. Lua gostou dos meninos, particularmente de Neném, que tocava triângulo. Colocou em seu bolso um generoso maço de cédulas e fez o convite: se ele algum dia fosse ao Rio, procurasse por ele.

A vida não estava moleza. Dominguinhos e Seu Chicão se informaram onde morava Luiz Gonzaga. Na época possivelmente o artista mais popular do país. Foram bem recebidos na casa do Rei do Baião, no Meyer, Zona Norte carioca. Neném saiu de lá portando uma vistosa sanfona de 80 baixos. Dominguinhos (o nome artístico sugerido por Luiz Gonzaga), passaria a frequentar o casarão do Meyer, que abrigava na mesma época dois futuros monstros sagrados da música nordestina, a cantora Marinês e o sanfoneiro Abdias. Dominguinhos foi aprendendo com Luiz Gonzaga, e rapidamente. Logo estaria tocando no grupo do Rei do Baião e formando com Zito Borborema e Miudinho, o Trio Nordestino (que no final dos anos 50 seria integrado por Coroné, Cobrinha e Lindú). Não chegou a gravar com o trio e logo precisaria desdobrar-se tocando na noite. A namorada Janete engravidou, e ele como nordestino respeitador, se casou com a moça. Para sustentar a família ele encarava todas as frentes de trabalho da música. Tocou no regional de Dante Santoro. Pertenceu ao cast de instrumentistas da Rádio Nacional e participou do regional de Canhoto.

Embora tivesse gravado com Luiz Gonzaga (toca por exemplo, em 'Forró no escuro' - 1957), Dominguinhos só gravaria o primeiro LP solo em 1964, pela Cantagalo, gravadora criada pelo sanfoneiro Pedro Sertanejo. Ainda tímido quanto aos seus dons de compositor, Dominguinhos grava alguns dos mais solicitados autores do forró, com duas faixas assinadas por ele, uma dedicada a Garanhuns. Sua carreira tomou impulso quando ele passou a fazer música com a também pernambucana (do Recife) Anastácia.

Em 1972, o xote 'Eu só quero um xodó' (dele e de Anastácia), foi uma das canções mais tocadas no país, e deu a Gilberto Gil o maior sucesso popular de sua carreira até então. Luiz Gonzaga não se cansava de elogiar que foi Dominguinhos o verdadeiro responsável pela urbanização da música popular do Nordeste. Na banda de Gal Costa, de Gilberto Gil e em longas turnês como Quinteto Violado, ele pode empregar seu talento com música, valendo-se de acordes dissonantes e harmonias de jazz, que aprendeu na noite tocando standards americanos, franceses e italianos.

Dominguinhos passou a ter livre acesso a todos os nichos da MPB, um sanfoneiro pop que tanto podia fazer show ao lado da eterna musa Nara Leão, quanto ter música sua cantada pelo grupo A Cor do Som. Ao mesmo tempo em que invadia as praias do 'Sul Maravilha', ele não esqueceu do nordeste. Seus discos são sempre impregnados de sabor regional e ao mesmo tempo em que são universais. O forrozeiro de voz suave, jeito manso, que aprendeu com a vida, encarava na chincha, compositores de diplomas universitários e levava festivais de MPB, como fez com o festival da TV Tupi, em 1979, com 'Quem me levará sou eu' (com Manduka).

Dominguinhos é dono de uma vasta e preciosa discografia, espalhada por várias gravadoras, a maioria dos títulos ainda inéditos em CD. É portanto mais que oportuna a reedição de 'É isso aí! Simples como a vida' (1988), Veredas Nordestinas (1989), e 'Aqui tá ficando bom!' (1990), gravados na extinta Continental com produção de Carlos Alberto Sion, e que agora a Warner Music lança pela primeira vez em CD.