Escrita num estilo despojado de artifícios retóricos, mas, ao mesmo tempo, saturada do simbolismo tão característico do autor, A morte de Ahasverus é uma novela que, por vezes, manifesta fulgores próprios de uma parábola. Desde sua abertura, em que nos apresenta uma estalagem medieval onde se reúnem os mais variados tipos humanos — de peregrinos que rumam à Cidade Santa até rufiões, prostitutas e salteadores —, a obra em momento nenhum se afasta da tensão entre as angústias e limitações humanas e a atração de um chamado profundo e talvez externo que, embora por vezes incompreensível aos que o ouvem, ainda assim se impõe irresistivelmente. Desse modo, o autor esboça um quadro das operações das forças elementares da existência humana, no qual não se discerne, como se presumiria, os vincos e limites entre a penitência, a indiferença e mesmo a revolta. A figura que faz com que novamente se cruzem os caminhos até então separados de Tobias e “Diana”, dois antigos amantes, é Ahasverus, o “judeu errante” da tradição oral cristã, que havia sido condenado à eterna perambulação pelo mesmo Cristo que escorraçara durante sua subida ao Gólgota. Esses três estranhos “peregrinos” se veem, pois, atraídos, cada um a seu modo, por distintas visões de sua possível destinação, a qual, como demonstra Lagerkvist, é sempre tão obscura e misteriosa quanto a própria condição humana
14x21cm
84 Páginas